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Entenda a Psicomotricidade
de Orientação Transpessoal

Psicomotricidade, um termo empregado para designar a ciência que tem uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização (Vieira, 2005).

Conforme a definição da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade: “Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas”.

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Portanto, falar de psicomotricidade é colocar o corpo em discussão. Para Aucouturier (1995), a Prática Psicomotora surge como uma nova dimensão da Psicologia. Mas ela é, antes de tudo, uma escolha filosófica, psicológica e pedagógica, que condiciona o sistema de atitudes na ajuda, assim como os princípios de interação com a criança. A elaboração dos princípios fundadores da prática psicomotora partiu sempre de raízes “experimentais”, permitindo, como coloca o próprio Aucouturier, “articular a prática com a teoria, evitando discursos abstratos demais”.

A escolha filosófica é clara, e seja de quem quer que se trate: seja da criança, do adolescente ou do adulto em dificuldade, cada um é considerado como uma pessoa que testemunha uma experiência única e que deve ser acolhida com maior respeito.

A psicomotricidade como uma nova dimensão da psicologia, iniciou como uma abertura progressiva à dimensão da vivência da criança e de seu potencial de descoberta e de criatividade (Lapierre & Aucouturier, 1988). A partir daí, passou-se a considerar a vivência simbólica, com raízes no inconsciente, como fundamental para atingir camadas mais profundas da personalidade, e, através disso, aproximar-se desse nó psico-afetivo que determina todo o devenir do ser.

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A psicologia transpessoal é o campo que mais tem estudado todo o espectro da consciência. Ela inclui explícita e cuidadosamente todas as facetas da psicologia e da psiquiatria pessoais, e então adiciona os aspectos mais profundos e elevados da experiência humana, que transcendem o comum e o médio (Wilber, 1997, p.40).

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Para a Psicologia transpessoal a espiritualidade é um aspecto central do desenvolvimento humano, parte da própria biologia subjetiva. Sendo assim, a espiritualidade envolve a necessidade de transcendência, sensação de bem estar que é experienciada quando encontramos um propósito, um sentido significativo para a vida, os quais favorecem experiências transpessoais.

Ken Wilber, é um dos mais conhecidos e influentes filósofos norte-americanos de nossa época, reconhecido como um importante representante da psicologia transpessoal. No seu trabalho, tomou os resultados de pesquisas de um grande número de teóricos modernos e tentou integrá-los com o melhor dos filósofos perenes, para chegar a um espectro completo do espaço de desenvolvimento, que se estende da matéria para o corpo, do corpo para a mente, da mente para a alma e daí para o espírito. Estas são ondas básicas do ser e do conhecer através das quais fluem as várias correntes de desenvolvimento, todas elas equilibradas e integradas pelo eu em sua notável jornada que vai do subconsciente para o autoconsciente e daí para o superconsciente. (Wilber, 2000, p. 106).

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As técnicas transpessoais têm por objetivo restabelecer a comunicação entre os fragmentos do próprio indivíduo e trabalhar no desapego das imagens parciais, no sentido de estabelecer contato com as experiências e reações verdadeiras, quando disponibiliza ao indivíduo todo potencial de sua mente, com espontaneidade e criatividade. Se a mente está sem intenções rígidas, preconceitos ou ordens, o indivíduo pode estar em contato direto com a experiência real do mundo, centrado no momento presente do sentir, pensar e agir, numa congruência saudável entre esses diferentes níveis (Saldanha, 2008, p.171).

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Abraham Maslow afirmava que a raiz viva de nosso potencial humano é a natureza essencial interior, que reprimida e negada faz adoecer sempre de forma óbvia ou de maneira sutil (Saldanha, 2008, p.168). Assim como Maslow, acreditando que a raiz viva de nosso potencial é a nossa natureza essencial interior, sendo um dos pioneiros a propor o estudo do homem a partir de seu estado de realização, Leloup (2009) também defende que poderíamos conhecer melhor o ser humano a partir de seu estado de realização. Pensamentos compartilhados por Aucouturier, através de sua prática psicomotora.

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Winnicott, ao mesmo tempo em que defendia a tendência inata do ser humano ao amadurecimento, defendia que, para o indivíduo chegar a apropriar-se de suas potencialidades, todos os estados do ser precisam ser experienciados, evidenciando também a necessidade da existência contínua de um ambiente facilitador. Para ele, a qualidade das experiências do bebê, depende de um ambiente facilitador.

A psicomotricidade como é concebida aqui, atribui muita importância à criança que age seu próprio processo de separação, que age sua diferença, sendo agente de sua maturação psicológica. Para tal, é de extrema importância o sujeito ativo em seu desenvolvimento em um ambiente afetivo e tranquilizador, que não limite o crescimento simbólico, nem a vida em sociedade. Formar seres ativos, capazes de transformar, de criar, de comunicar e de viver em conjunto deveria ser o objetivo de qualquer educação que vise formar cidadãos capazes de desenvolver a união de todos numa sociedade.

 

Maslow salienta, através de sua teoria, que um mero ambiente destrutivo ou uma educação autoritária rígida pode facilmente levar a padrões habituais improdutivos baseados numa orientação de deficiência. Da mesma forma, qualquer hábito forte em geral tende a interferir no crescimento psicológico, pois diminui a flexibilidade e a abertura necessárias para atuar de modo mais eficiente e efetivo numa variedade de situações (Fadiman, 1986).

 

Quando Aucouturier diz que, para desenvolvimento harmonioso da criança, deve-se dar-lhe possibilidades de existir, oferecendo condições favoráveis para comunicar, expressar, criar e pensar corrobora com o pensamento de Maslow, sobre as condições favoráveis da sociedade para o pleno desenvolvimento do ser, ou seja, pleno desenvolvimento de suas potencialidades.

Aucouturier propõe as condições favoráveis, para o desenvolvimento do ser humano, do prazer de agir ao prazer de pensar. Mas, como diz Eckhart Tolle (2007), o pensar é apenas um minúsculo aspecto da consciência que somos. E, o pensamento sem a consciência é o principal dilema da existência humana. Assim, a visão transpessoal com seu estudo dos estados de consciência, alarga esse horizonte, permitindo um olhar para toda a plenitude do ser.

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O espírito se desenvolve em um grande espectro de consciência do big-bang à matéria, à sensação, à percepção, ao impulso, à imagem, ao símbolo, ao conceito, à razão, ao psiquismo, ao sutil, às ocasiões causais, em direção ao chocante conhecimento de si mesmo, à sua própria realização e ressurreição. Expandir a consciência é expandir o conhecimento de quem você é. Saber quem você é significa, se religar com sua essência multidimensional.

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E em cada um desses estágios – da matéria ao corpo, e à mente, à alma, ao espírito -, a evolução se torna mais consciente, mais atenta, mais percebida e desperta – com todas as alegrias e terrores inerentemente envolvidos na dialética do despertar.

A pesquisa desses estágios de evolução, no referencial bibliográfico das abordagens psicomotora e transpessoal, demonstram que o ser humano percorre um itinerário evolutivo, o qual, à luz da Prática Psicomotora Aucouturier e à luz da Psicologia Transpessoal, encontra muitos pontos em comum. Em especial, no que se refere à construção do eu referenciado por Aucouturier e a que Wilber chamou de linhas de desenvolvimento ou correntes relativas do eu. Assim como, a escada de evolução do desejo e do medo, proposta por Leloup, onde cada medo superado faz surgir um novo desejo e um novo medo, é um pressuposto que pode ser comparado a “superação dos fantasmas” e busca do prazer proposta na teoria de Aucouturier.

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Aucouturier, situa o período de construção do eu de 0 aos 3 anos (incluindo o período pré-natal). Wilber chama esse período de pré-egóico e explica que nesse período acontece o desenvolvimento das estruturas básicas, sendo o fulcro sobre o qual gira a construção do eu, e que corresponde aos três primeiros fulcros, ou seja, da idade pré-natal a aproximadamente os 2 anos. Contudo, de forma detalhada, Aucouturier nos esclarece através do sentido dado as ações da criança, como essa construção acontece. Wilber denomina o ego conforme as idades, sendo o fulcro 3 denominado de ego inicial (mais ou menos dos 4 aos 7 anos), fechando aí o “eu conceitual”. É justamente esse período que funda a psicomotricidade para Aucouturier, pois a criança precisa percorrer um itinerário que vai até aproximadamente os 7 anos, para melhor perceber a realidade, ou seja, tomar um distanciamento de suas emoções; processo este que ele conceituou como “descentração”, sendo o fechamento de uma etapa onde adquiriu um eu conceitual. Segundo Wilber, à medida que a mente conceitual começa a surgir e a se desenvolver (3 a 6 anos) a criança acaba por diferenciar a mente conceitual e o corpo emocional (F 3). É o conceito de descentração proposto por Aucouturier, ou seja, a possibilidade de tomar um distanciamento de suas emoções.

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Enquanto Aucouturier dá ênfase a esses sete primeiros anos e nos ajuda a compreender profundamente todas as ações da criança nesse período de desenvolvimento,  nos permitindo aprofundar sobre as etapas propostas por Wilber, este vai mais além, nesse itinerário de evolução do ser, indo até a etapa do que ele chamou de ego maduro, até os 21 anos.

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A partir deste estudo, é possível, fazer uma “injunção”, como diz Wilber, entre a Psicomotricidade e a Psicologia Transpessoal. Pois, ao incluir, na Psicologia Transpessoal, a Psicomotricidade, esta contribui para a Psicologia Transpessoal em relação aos níveis, ao aprofundar conceitos num dos níveis de desenvolvimento, no nível do ego corporal. Por outro lado, a Psicologia Transpessoal contribui para a Psicomotricidade ampliando seus conceitos, em relação à construção ou desenvolvimento do eu, ou seja, a Psicologia Transpessoal contribui em relação ao quadrante, contemplando o desenvolvimento em todos os quadrantes, ao incluir a dimensão espiritual do ser humano.

Enquanto a psicomotricidade nos permite vislumbrar estratégias para o desenvolvimento do potencial humano, nos primeiros anos da formação desse ser. A psicologia transpessoal nos abre a perspectiva de que somos seres de potencial infinito, pois a essência de nosso ser sustenta um potencial ilimitado e que podemos escolher ativar qualquer um desses potenciais.

A injunção entre a PSICOMOTRICIDADE E PSICOLOGIA TRANSPESSOAL mostrou como uma pode contribuir com a outra, tendo em vista que as duas visam o desenvolvimento do potencial humano.

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Desta forma as pesquisas realizadas nas abordagens da Psicomotricidade Relacional e na Prática Psicomotora Aucouturier, assim como na Psicologia Transpessoal colocaram em evidência o potencial humano. Ao considerar em nossa prática terapêutica o desenvolvimento das potencialidades humanas e a busca de uma visão integral do ser humano acrescentamos à psicomotricidade a dimensão espiritual, visando a melhoria do trabalho terapêutico.

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Através da integração dessas abordagens proponho a PSICOMOTRICIDADE DE ORIENTAÇÃO TRANSPESSOAL.

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