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Psicomotricidade na educação para o desenvolvimento da inteligência emocional


Educação pela psicomotricidade

As transformações que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo trazem novos desafios para a educação. O mercado de trabalho exige competitividade e busca de vantagens, em contrapartida, a sociedade carece de solidariedade, respeito ao ser humano e reconhecimento da diferença. Esse contexto faz pensar em uma educação que leve em conta à diversidade humana e que viabilize a integração entre motricidade, afetividade e inteligência.

Um dos maiores desafios educacionais contemporâneos é compreender a existência humana no mundo, estabelecendo uma relação afetiva entre os seres e entre estes e as coisas que os cercam.

A educação não pode mais limitar-se, no seu processo essencial, no processo de ensino de transmissão de saberes. Hoje, é importante focalizar o processo na evolução da pessoa.

Assim, repensar a escola é, evidentemente, repensar a formação de educadores, que da mesma forma não pode ser somente através do acumulo de conhecimento, mas também uma formação que leve em conta sua evolução como pessoa, ou seja, seu crescimento pessoal. Podemos acumular todo o saber psicológico, psicopatológico e psicopedagógico sem, contudo, sermos capazes de compreender uma única criança. Talvez esses conhecimentos sejam maneiras de não compreendê-la, de distanciarmo-nos em relação ao ser, transformando-a em objeto de observação.

Toda a ação com objetivo educativo coloca em jogo, simultaneamente, vários processos, alguns conscientes e outros inconscientes. No ensino atual, toda a atenção está focada nos processos conscientes, e os processos inconscientes são raramente evidenciados. Porém, em nossa opinião, eles parecem ter uma maior importância para o resultado real e perene da educação. O processo mais consciente é, certamente, o processo do ensino que consiste em transmitir conhecimentos, “saberes”, transmitindo também (e aí o processo é menos consciente) “modelos de pensamento”, um “saber fazer” intelectual. (Lapierre e Aucouturier, 1988, pág. 82)

Atualmente, nas escolas, a comunicação da qual temos mais consciência é a comunicação verbal. A forma mais usada de comunicação com as crianças pequenas da qual temos consciência é a comunicação verbal, contudo as crianças quanto mais jovens mais prescindem da comunicação verbal, compreendendo o mundo muito mais pelo agir, pelas emoções, pela expressão corporal do que pelo verbal. É justamente este tipo de comunicação que deve mais interessar o educador de crianças pré-escolares, pois esta é a única expressão verdadeira da criança.

A qualidade de vida depende da possibilidade das pessoas se reeducarem para enfrentar as exigências do mundo globalizado, cada vez mais concentrado e centralizado no capital, desvirtuando a ação humana para a busca do ter e não do ser. A qualidade de vida é a qualidade do ser, não do ter. Ser, existir, é exercer livremente o próprio poder de agir sobre o meio, mantendo a autonomia das próprias decisões.

Dentro deste propósito, a Psicomotricidade com uma abordagem relacional é vista como alternativa para um processo de humanização, visto que o ser humano utiliza-se do seu corpo para estabelecer relações consigo mesmo, com os outros e com o meio. A Psicomotricidade com uma abordagem relacional, surgiu no final da década de 1970, na França, como um movimento dentro dos estudos da Psicomotricidade que apontou para um corpo capaz de um vivenciamento global, deixando-se de pensar em um corpo compartimentado.

Este movimento é que dará suporte, na década seguinte, para Lapierre e Aucouturier fundarem uma Psicomotricidade já mais próxima do que hoje é conhecida por Psicomotricidade Relacional, de André Lapierre e a Prática Psicomotora Educativa e Terapêutica Aucouturier, de Bernard Aucouturier. A abordagem relacional traz o corpo como um corpo íntegro, um corpo que contém a criança como um todo, em suas dimensões afetiva, cognitiva e motora. Esta multiplicidade de pensamentos sobre corpo, movimento e afeto, abre um espaço para que o corpo passe a ser visto como fonte de todas as pulsões. O centro das primeiras relações com a mãe, pulsões que não têm acesso à consciência e à palavra. A linguagem da criança é corporal e seus gestos, atitudes, reações corporais, frequentemente decorrem de motivações inconscientes.

Artigo publicado em um jornal.


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